Prestando atenção no que se passa dentro de você como caminho para a escrita

getimage.jpgEste fim de semana estive relendo o Made by the Office for Metropolitan Architecture: an Etnography of Design, de Albena Yaneva. Tenho um especial interesse nestes trabalhos de investigação do dia-a-dia da prática dos escritórios de arquitetura e design, sendo eu mesma uma praticante deste curioso ofício – observar e pensar a respeito daquilo que se passa no quotidiano de trabalho, conversar com as pessoas envolvidas em suas situações de trabalho, e procurar, de algum modo, retornar para elas alguma apreciação minha sobre o que vi e percebi.

O interesse de minhas apreciações não residem no que relato, em si, mas sim na possibilidade de oferecer, a quem relato, uma perspectiva específica, sob um ângulo não imaginado antes, a partir de uma referência outra. Não melhor, não pior: outra.

Encontrei na releitura de Yaneva um trecho que exprimiu tão bem esta ideia, e que gostaria de deixar como tema para pensar nosso trabalho de escrita, ou qualquer outro trabalho criativo, hoje:

“Esta estratégia de escrita procura criar um texto reflexivo, ao tentar dirigir atenção para o leitor em si, para sua própria vida e experiência como projetista”.

(This writing strategy aims at creating a reflexive text by trying to direct attention to the reader himself, to his own life and experience as a designer.)

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Nesta semana, em que trabalhamos aqui no blog nas conclusões parciais ou finais, a ideia é que, em nossa própria escrita, procuremos pensar em  nossas leitoras e leitores, explorando mental e emocionalmente o que temos em comum com estas (possíveis) pessoas, e então escrever a partir daquilo que você sente que tem em comum com elas, e que as faria refletir, porque te fez refletir.

Para escrever assim, preste atenção ao que se passa dentro de você, explore as inquietudes, as dúvidas, os anseios, e procure escrever, sobre seu trabalho, a partir daí. Pense nisso como uma interessante experiência de escrita!

Abraços e até mais!

Ana Gabriela

Fonte da imagem:

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Impacto ou contribuição? Dureza ou suavidade?

Nas últimas semanas me peguei matutando por conta do retorno de algumas alunas e alunos, contendo uma tônica em comum: minha atitude como professora parecia, digamos, assertiva demais. Especialmente se comparada aos cursos anteriores em que já havíamos nos encontrado, e eu parecera mais suave e “na boa”…

Fiquei agradecida e surpresa.

Agradecida pelo modo gentil e generoso com que cada uma, e cada um, me trouxe um comentário, um exemplo, uma pergunta, sinalizando um certo estranhamento diante desta mudança.

Surpresa porque eu não havia percebido! E, claro, elas e eles tinham razão! E parei pra pensar um pouco sobre isso. Eis minhas auto-reflexões preliminares.

A primeira: quando concentramos demais nosso foco, parece que não enxergamos nada em volta! Ou enxergamos menos… Lembro de uma entrevista com o legendário jogador de basquete, Michael Jordan. Ele dizia que quando entrava na quadra eram apenas ele e a cesta, e sua atenção se concentrava obcecadamente em sua meta: converter o ponto!

Bem, claro que não estou nem perto de ser excepcional como Michael Jordan, mas é verdade que até minhas alunas e alunos me darem um toque, admito que estava hiperfocada em meu novo projeto de pesquisa. Mesmo querendo beneficiar minhas parceiras e parceiros, trazer novas oportunidades para pesquisadoras e pesquisadores com quem trabalho, meu foco estava em aprender os dados, as referências, o novo universo de estudo. Minha porção cientista assumiu a maior parte do controle! Talvez por causa do prazer enorme que há em desbravar novos territórios de conhecimento!!

E um de meus queridos alunos me conta em sua mensagem, que ficou incomodado quando perguntei às alunas e alunos sobre qual impacto desejavam causar no mundo. Ele escreve: “Já causamos impactos demais no mundo”.

Concordo. Minha auto-reflexão me levou a admitir a possibilidade de que, em minha performance focada-científica-professoral na aula a que ele se referia, talvez eu tenha pronunciado a palavra “impacto” como quem descreve a queda de um meteoro na superfície terrestre.

Como o Inquietudes Projetuais é um blog que procura compartilhar insights com quem está desenvolvendo um trabalho criativo, permita-me sugerir uma abordagem diferente para impacto.

Para seu trabalho, neste mês que se inicia, pense em impacto como a contribuição que você deseja oferecer ao mundo. Qual o seu presente, por modesto e simples que seja?

A Semana 1 aqui no blog é dedicada a pensar, ou revisar seus objetivos. Então pense nisso, mas não exagere no foco, como eu vinha fazendo nas primeiras aulas de meu curso.

Contribuição não tem a ver apenas com resultados concretos, números, índices, etc… Tem a ver também com as pessoas que você inspira, e que te inspiram também. Tem a ver com todo o bem que você deseja não apenas que se manifeste na vida das pessoas que você ama, de suas amigas e amigos, colegas, alunas e alunos. E com o bem que você deixa as pessoas trazerem pra você, na forma de uma conversa, um livro que você ganha de presente…

Tem a ver também com o bem que você deseja que se manifeste na vida das pessoas que vivem em condições precárias, frágeis, vulneráveis, que neste momento sofrem sem ter instrumentos para sair de suas condições por si próprias.

Mesmo que modesta, uma pequena contribuição pode se somar a outras pequenas contribuições, e isso aos poucos exerce um impacto  positivo na realidade. É nesta imagem que eu acredito, e que eu desejo inspirar e alimentar em todas as pessoas com quem interajo.

É bom ser focada nos números, índices e resultados que você almeja para seu trabalho, mas isso precisa ser equilibrado com a visão geral, com a consideração pelas pessoas, e seus estados de espírito, e suas emoções e desejos, com quem você convive e na vida de quem sua ação e seu comportamento vai interferir!

É nisso que vou meditar neste mês de Abril, enquanto reviso minhas práticas em busca de recuperar a suavidade, como quem faz Tai-Chi-Chuan! Ou como inspira a lindíssima Igreja na Água, de Tadao Ando, que ilustra o post de hoje.

Também é minha sugestão para você, neste lindo mês outonal!

Abraços e bom trabalho!

Ana Gabriela

 

Fonte da imagem: http://img06.deviantart.net/3da6/i/2012/010/3/9/church_on_the_water___tadao_ando_by_phonginterior-d4lwc0k.jpg

 

 

 

 

 

 

Imagem e texto na pesquisa acadêmica

Oscar Niemeyer não apenas fazia desenhos com uma capacidade única de ficarem gravados nas mentes de estudantes e praticantes de arquitetura do mundo todo. Ele também escrevia lindamente.

Embora muitos de seus textos descrevessem projetos seus, acho que podemos dizer que também possuíam uma certa autonomia quanto à forma, a beleza, o ritmo e o estado de espírito a que se conduz a leitora, ou leitor, por meio da palavra escrita.

Retomemos este mais do que conhecido clássico de Oscar:

“Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta. Dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas de meu país, no curso sinuoso dos rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida.

De curvas é feito todo o universo. O universo curvo de Einstein.”

Compare esta versão simplesmente digitada com a imagem que ilustra este post.

 

Note como na primeira versão, a mensagem transforma-se, o engajamento com quem lê ganha outra dimensão, e mais conteúdo do universo interno de Oscar Niemeyer, e suas representações, se transmitem por meio da imagem de sua escrita à mão, de seu desenho de mulher, de seu desenho das curvas.

Como estamos na semana 5 -Revisão do texto, revisão da formatação de acordo com as normas ou padrões exigidos, diagramação – minha sugestão é:

pare e avalie como seu texto está estruturado visualmente? Qual o valor das imagens que você selecionou? Você está dando o devido valor às imagens, tendo em vista o tema do seu trabalho?

Faça um exercício simples com seu texto. Selecione um parágrafo e escolha uma imagem para ele. Note a diferença entre o parágrafo sozinho e o parágrafo acompanhado da imagem.

E é isso por hoje!

Abraços,

Ana Gabriela

Fonte das imagens:

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Certezas provisórias…

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Sou obcecada por imagens de artistas, arquitetas, arquitetos, trabalhando…esta é a jovem Fayga Ostrower.

semana passada não postei nada, estava envolvida em um breve jornada de revisão pessoal sobre minhas rotinas e rituais de trabalho. Acabei chegando à conclusão de que algumas coisas que eu achava excelentes na minha rotina na verdade eram um empecilho para a reflexão sobre coisas muito importantes na minha vida.

Porque dedicamos tempo a coisas que não têm tanta relevância em nossas vidas? Algumas respostas possíveis:

. Porque são mais fáceis;

. Porque são mais divertidas;

. Porque nos fazem sentir incríveis (ou ao menos mais espertas, ou espertos, do que somos de verdade).

Passada esta semana, dei uma sacudida boa em minha rotina, e eis-me aqui de regresso! Sinal de que meu querido blog continua sendo algo importante na minha vida.

E como estamos na semana da 5a etapa de trabalho, (o que é isso? Confira aqui.) minha sugestão é que você dê uma revisada no seu texto, refletindo sobre o seguinte: você mudou de ideia em relação a ago que você escreveu, ou fez, neste trabalho?

Veja seu texto como as arquitetas e arquitetos vêem seus croquis, como artistas encaram suas telas, esculturas… como trabalho em andamento, à espera de correções, ajustes, ou até mesmo mudanças radicais de rumo! Já ouvi histórias de escritórios de arquitetura que, após passarem semanas desenvolvendo uma ideia, subitamente chegam à conclusão de que ela não era boa. O que fazem? Descartam tudo o que não servia, começam tudo de novo! Mas dessa vez, melhor e de modo mais consciente.

Se mudou de ideia, dê as boas-vindas e analise esta mudança. Para te inspirar, reproduzi abaixo a impagável letra de Raul Seixas.

Abraços e boa semana!

Ana Gabriela

Metamorfose Ambulante

Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes
Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Hoje eu sou estrela amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

É chato chegar a um objetivo num instante
Eu quero viver essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Hoje eu sou estrela amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

Eu vou lhes dizer aquilo tido que eu lhes disse antes
Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Recuperei a letra de Raulzito neste site: https://play.google.com/music/preview/Tfgkqwhncfwm2mh6gagu3h32nwe?lyrics=1&utm_source=google&utm_medium=search&utm_campaign=lyrics&pcampaignid=kp-lyrics

Imagem da Fayga: https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/29/cc/39/29cc395b4df2b1646a4618e4266a55f5.jpg

Auto-engano e prática criativa

O auto-engano, tema de tantos debates filosóficos, talvez possa ser considerado uma defesa psíquica para lidarmos com as circunstâncias da vida. Como ponderou Eduardo Giannetti  em seu livro Auto-engano*, sem isso, nossa vida perderia parte do encanto, seria excessivamente dolorosa.

Fernando Pessoa, em Autopsicografia, nos enleva com a beleza do auto-engano:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.**

Estariam as arquitetas e arquitetos praticando uma forma produtiva de auto-engano, quando desenham, fazem croquis para trazer uma obra do mundo das coisas imaginadas para o das coisas construídas, acreditando na existência delas com cada fibra de seu ser, mesmo quando não sabem direito como aquilo vai ser feito? Lembro dos croquis de Jorn Utzon para a Sydney Opera House, e dos desenhos iniciais. Quando ganhou o concurso, não conhecia os meios com os quais de fato materializá-lo.

O auto-engano foi visto como o gesto humano mais íntimo, mais secreto,  por Herbert Fingarette, em seu Self-deception*** , que também se inquieta com o que há de paradoxal nessa prática.

Porque no caso de uma pessoa que engana a outra, fica claro que a culpada é a que enganou, inocente a enganada. Mas o que fazer do indivíduo que é ao mesmo tempo enganador e enganado?

Praticar o auto-engano consigo mesma, ou consigo mesmo, é também o que nos leva adiante, a despeito de todas as evidências práticas. Engravidar de propósito no doutorado, uma prática tão habitual (sei por experiência, minha, de minhas orientandas e orientandas de colegas…), é um exemplo. A princípio, ela engana-se achando que vai dar conta de ambos, doutorado e bebê. Quando nasce a menina ou menino, ela percebe o que já sabia no início, que não vai dar conta!

Mas disso decorre a coisa interessante. Ela não vai dar conta no modo de realidade em que estava habituada a viver. Ela, e possivelmente o pai da criança, terão que desenvolver uma outra compreensão da própria realidade, das próprias possibilidades. Uma outra visão de si e sua atuação no mundo. Aí o doutorado sai, e ela termina a pesquisa com o título e a criança. E tudo aconteceu por conta de algo que, no início, possivelmente foi uma forma de auto-engano.

Retomando o caso das arquitetas e arquitetos. Assim como Jorn Utzon, será que Denise Scott Brown, Kazuyo Sejima, Lina Bo Bardi, você e eu sempre sabemos como uma obra vai ficar e como fazê-la? (Tente responder sem usar auto-engano!)

Mas, enfim, estes são apenas alguns caminhos pelos quais pensar o auto-engano, que me serve para dizer o que quero dizer hoje.

No início, e durante o processo de desenvolver um trabalho criativo, frequentemente duvidamos, hesitamos, perdemos a confiança. Diante de uma bagunça de artigos e livros não inteiramente estudados, textos ainda em estado primitivo e insatisfatórios, prazos apertados e tarefas cotidianas intermináveis (renovar o seguro do carro, cadastrar a impressão digital para as novas eleições, comprar o material complementar da escola das crianças, etc., etc., etc….), é razoável imaginar que você não vai terminar nunca! Que, sendo realista, você não tem a menor condição de dar conta deste trabalho, e coisas do tipo.

De fato, pode mesmo ser verdade. Daí só nos resta lembrar, sempre temos o auto-engano!

Foi procurando encarar de modo bem-humorado esta artimanha íntima sua e minha, que pensei no que fazer, e em como fazer, nesta sexta-feira.

Rotina da semana e tarefa do dia abaixo:

Semana 2 / Fase 2: Levantamento de dados

Tarefa do dia:

Como sempre, ajuste seu timer para uns 20 ou 30 minutos para essa tarefa. Usar o timer é importante para você não perder o controle das outras coisas que tem que fazer ao longo do dia!

Sente em uma posição confortável, relaxe e respire fundo por alguns minutos, até sentir mais calma e tranquilidade. Procure pacificar-se internamente só por esse período de 20 ou 30 minutos.

Pense. Se você não tivesse todas as obrigações que você tem, se você tivesse todo o tempo do mundo, todo o dinheiro do mundo, e todos os recursos do mundo para fazer seu trabalho, como ele ficaria?

Qual tamanho ele teria? De que material seria feito? Cores? E seu conteúdo, o que você acha que seria o ideal em termos de conteúdo? Que nível de profundidade você gostaria de atingir? Pense em todos os detalhes, se quiser, anote tudo isso.

Quando voltar de sua meditação, pense um pouco se a visão ideal está tão longe assim da visão possível. Pense se não seria possível fazer ajustes pequenos em sua vida, para trabalhar no sentido de aproximar mais seu trabalho da visão imaginada.

Por hoje é isso, bom fim-de-semana!

Abraços,

Ana Gabriela Godinho Lima

*(Cia das Letras, 2005)

**Autospicografia, de Fernando Pessoa (27/11/1930) – recuperado em: http://www.releituras.com/fpessoa_psicografia.asp

***1a edição, Routledge, 1969. Em 2000 saiu pela Blackwell uma nova edição, adicionada de um capítulo.

Imagens:

Foto: https://media-cdn.tripadvisor.com/media/photo-s/06/7e/de/b0/caption.jpg

Croquis: http://2.bp.blogspot.com/-1vOllUfmU3M/T8Cx3RR_CSI/AAAAAAAAAf0/nEoBL4HBeKc/s1600/Red+Book+sketch+1958.png

Um mundo pensado por mulheres

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Neste dia 08 de Março, Dia Internacional das Mulheres, acordei com meu whatsapp pululando de mensagens de felicitações pela data. Vários pensamentos, várias ideias, muito senso se humor. Hoje meu whats era um mundo pensado por mulheres!

Com essa ideia, “um mundo pensado por mulheres”, sentei para escrever este post. Lembrei de Lina Bo Bardi em primeiro lugar, e do quanto daquilo do que conhecemos, entendemos e interpretamos da cultura popular brasileira nasceu dos pensamentos, sonhos, desenhos e ideias dela. O ícone da Av. Paulista, nosso querido MASP, parte integrante do imaginário paulistano, foi primeiro imaginado por ela.

Indo mais para trás na história, pensei em Lou Salomé, a mulher sem a qual dois homens, considerados pilares da construção do mundo contemporâneo, não teriam chegado a pensar o que pensaram: Nietzsche e Freud. Permitam-me recuperar abaixo o post que escrevi há algum tempo no meu blog dedicado ao assunto das mulheres no mundo criativo: femininoeplural.wordpress.com.

Lou Salomé talvez seja mais conhecida por meio daqueles que a elegeram como musa. Rainer Maria Rilke dedicou a ela seu “Livro de Horas”. Friedrich Nietzsche inspirou-se nela ao escrever “Assim Falava Zaratustra”. Freud escreveu-lhe, após conhecerem-se em um congresso: “Na expectativa de que um dia eu possa ter a oportunidade de conversar com você em particular”.

Lou Andreas-Salomé, nascida Luíza Gustavovna Salomé, nasceu em São Petersburgo, Rússia, em 12 de Fevereiro de 1861. Foi poeta, ensaísta e intelectual de brilho próprio, mas talvez seu principal feito tenha sido criar uma trajetória própria para si, impensável para a maioria das mulheres de sua geração.

Salomé conheceu Freud em 1911, no Congresso Psico-analítico de Weimar. Após o que tornou-se sua discípula, musa e par intelectual, discutindo seus trabalhos e casos de pacientes, além de preocupações em comum como o narcisismo, métodos de trabalho e a psicologia do artista.

Escreveu o primeiro estudo feminista sobre as mulheres de Ibsen, e um estudo sobre a obra de Nietzsche. Barbara Kraft ponderou que Salomé, durante sua vida (1861-1937), presenciou “o fim da tradição romântica e se tornou parte da evolução do pensamento moderno, que frutificou no século XX. Salomé foi a primeira ‘mulher moderna’. A natureza de suas conversas com Nietzsche e Rilke antecipou a posição filosófica do existencialismo. E, por seu trabalho com Freud, ela figurou com destaque na evolução inicial e na prática da teoria psicanalítica.”

Sobre a importância de Salomé como referência feminina, Kraft coloca:

“A princípio, eu a vi como heroína – como merecedora do culto do herói, no que esse culto tem de mais positivo. As mulheres sofrem hoje, tremendamente, da falta de identificação com uma figura feminina heróica”.

Para nós, mulheres ligadas à arquitetura e ao design, Lou Salomé é uma referência de criação da própria trajetória de vida, de projeto e construção de si mesma, de experimentação e risco. Seu trabalho é fundamentalmente o de uma criadora: da possibilidade de afirmação do indivíduo, se sua abertura para o outro e para o mundo.

Rotina da semana e tarefa do dia abaixo:

Semana 2 / Fase 2: Levantamento de dados

Tarefa do dia:

Aproveitando que estamos no Dia Internacional das Mulheres, que tal refletir sobre seu trabalho e em que medida você está levando em consideração a presença, participação, impacto das mulheres. Pense nas idosas, pense nas adolescentes, nas gestantes, nos bebês meninas. Será que nada no seu trabalho tem a ver com esses grupos de pessoas?

Por hoje é isso, até amanhã!

Abraços,

Ana Gabriela Godinho Lima

Post original sobre Lou Salomé: https://femininoeplural.wordpress.com/2015/02/12/feliz-aniversario-lou-andreas-salome-a-primeira-psicanalista/

Fontes das imagens:

Foto da Lina: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lina_Bo_Bardi#/media/File:442455-400×600-1.jpeg

A imagem de Salomé que ilustra esse post foi encontrada no site da revista francesa: Philosophie Magazine. Confira no link

http://www.lyslydia.fr/portfolio/lou-andreas-salome/#!prettyPhoto

a coleção de imagens criadas pela ilustradora Lys Lydia interpretando momentos-chave da vida de Salomé.

A imagem da capa do livro foi encontrada em: http://www.brainpickings.org/2015/02/12/lou-andreas-salome-sigmund-freud-letters/

Abaixo, as referências que utilizei para esse post:

http://www.philomag.com/

http://www.philomag.com/les-idees/grands-auteurs/lou-andreas-salome-3814

brainpickings.org

http://www.brainpickings.org/2015/02/12/lou-andreas-salome-sigmund-freud-letters/

http://eternamentelou.blogspot.com.br/

http://en.wikipedia.org/wiki/Lou_Andreas-Salom%C3%A9

Há um tempo para tudo sob o sol

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O Pritzker prize deste ano foi para o escritório espanhol RCR de Rafael Aranda, Carme Pigem e Ramon Vilalta. A fotografia selecionada no site do Pritzker para ilustrar seu trabalho é esta, que reproduzo acima: Bell–Lloc Winery, 2007, Palamós, Girona, Espanha.

A imagem enfatiza esta passagem, emoldurada por trapézios invertidos irregulares, que, vistos em perspectiva, não se alinham. Cada um deles é delineado pela luz natural, que penetra o ambiente não se sabe bem de onde, criando uma atmosfera instrospectiva, e rítmica. O contraste do acabamento castanho, manchado, escuro, com a precisão do desenho dos trapézios e a luz dão ao ambiente um tom quase musical.

Esta circulação, organizada por seções demarcadas por luz e trapézios, me sugeriu, claro,  a ideia dos estágios do cultivo da uva, desde sua semeadura até a colheita, e então o processo de transformar fruta em vinho. De onde me veio o título da crônica de hoje, que você deve saber de onde vem:

Há um tempo para tudo sob o sol. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;

Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.

Não sei se você tem propensões religiosas ou espirituais, mas convenhamos que este texto do Eclesiastes é muito bonito. E apropriado para o que quero dizer hoje.

Muita gente, como eu, vê sua vida desenrolar-se em ciclos. As mulheres têm ciclos naturais evidentes, mensalmente. Os ciclos hormonais das mulheres também são mensais.

Mas também há outros ciclos. Os estudiosos da criatividade, como o psicólogo Mihaly Csikszentmihaly, notam que a pessoa envolvida no trabalho criativo passa por fases. Estas não são as fases externas, com as quais organizamos nosso cronograma, mas as fases internas, estados psíquicos que toda criadora ou criador passar durante seu processo de trabalho.

Uma das fases é a incubação, em que, após um período de leituras, conversas, contatos, eventos, e a ingestão de uma dose maciça de nova literatura e novas ideias, a pessoa simplesmente – para….

Durante esta parada, parece que nada está acontecendo, mas está. Apenas não é visível. Do mesmo modo que a gestação não é visível nos primeiros meses, o trabalho criativo passa por fases invisíveis em algumas etapas. Às vezes as mulheres grávidas têm sintomas incômodos. O mesmo se passa com as pessoas em processo de criação.

Tudo isso para dizer que, às vezes na vida, parecemos estar sendo tão produtivas, ou tão produtivos. E tudo bem… Pode ser apenas um período de incubação!

Rotina da semana e tarefa do dia abaixo:

Semana 2 / Fase 2: Levantamento de dados

Tarefa do dia:

Para hoje, ajuste seu timer para 30 minutos, para a seguinte tarefa:

Dê uma olhada no material que você levantou até agora. Use sua intuição para escolher o texto que te parece mais importante. Dê uma olhada por cima neste texto, sem se deter profundamente.

Detecte as palavras que mais te chamam a atenção, de 5 a 10.

Procure entender a estrutura do texto: começo, meio, fim.

Anote os nomes importantes: autores, protagonistas…

Anote outros dados: números, estatísticas, aquilo que te chamar a atenção.

Já começou a ter uma ideia mais clara do que este texto oferece?

Amanhã continuamos!

Abraços,

Ana Gabriela

p.s. Desculpem o sumiço nos últimos dias, imprevistos acontecem!

Fonte da imagem: http://www.pritzkerprize.com/2017/works

Fonte da citação: Eclesiastes 3:2-8 (Fiz uma pequena adaptacão no início da citação. Na versão online, o início tem uma tradução diferente: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” Entretanto, para o título desta crônica, preferi  a versão que tenho de memória, embora lamentavelmente tenha esquecido a versão.

 

 

Como os outros nos transformam…

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Ser professora, ou ser professor, é um trabalho que traz infinitas oportunidades de transformação, se permitirmos. Quando as alunas e alunos sentem que, de alguma forma, transformam você, elas e eles também se permitem ser tocados. Às vezes, em nossa prática professoral, sentimos que um encantamento se estabelece em sala de aula. Acho que esse encantamento é o processo de transformação a que todos entregam-se, em conjunto, ao longo de uma aula.

Durante a aula de ontem, discuti com minhas alunas e meus alunos um texto de Maurice Tardif, que aborda, de certa forma, essa questão, ao falar da Epistemologia da Prática Profissional:

“O trabalho diário com os alunos provoca no professor o desenvolvimento de um ‘conhecimento de si’, de um conhecimento de suas próprias emoções e valores, da natureza, dos objetos, do alcance e das consequências dessas emoções e valores na sua ‘maneira de ensinar’.”*

O desenvolvimento do conhecimento de si é outra denominação para o processo de transformação, a que uma professora, ou professor, pode se entregar, ou a que também pode resistir.

Como o autor francês sugere ao final de seu texto, quando não nos interrogamos acerca da relação que estabelecemos com nossos saberes, nossa visão aos poucos torna-se opaca, limitando o modo como respondemos aos estímulos do mundo. Esta resistência ao auto-questionamento induziria à formação de um abismo entre nossas “teorias professadas”e  nossas “teorias praticadas”. Ou seja, elaboramos internamente teorias sobre como os outros deveriam ser, o  que os outros deveriam fazer, mas dificilmente praticamos tudo aquilo que professamos.

A ideia é que, reconheçamos ou não, todos temos postulados implícitos, crenças internas às vezes profundamente implantadas, que orientam nossas ações. Crenças sobre como as pessoas são, como as mulheres são, como os homens são, como as alunas são, como os alunos são, como as arquitetas são, como os arquitetos são, etc…. etc… Agimos e pensamos, frequentemente, não em resposta ao que a pessoa diante de nós é, mas ao que acreditamos que ela seja.

Nesse sentido, talvez o ato transformador, e profundamente corajoso, seja: esforçar-se por olhar, e reconhecer, e responder, e entender ao menos uma pequena parte, daquilo que a pessoa diante de você é, daquilo que as alunas e alunos são. E trazer, para esta interação, algo daquilo que você realmente é, e não a imagem de professora ou professor, mulher ou homem, arquiteta ou arquiteto, que achamos que deveríamos ser.

Como nesta semana de trabalho nos dedicamos, aqui no blog, a pensar em conclusões parciais ou finais de nosso trabalho, achei que seria interessante passarmos estes dias trabalhando um pouco com essas explorações internas. Elas sempre nos fazem tirar algumas conclusões interessantes sobre a vida e o trabalho!

Rotina da semana e tarefa do dia abaixo.

Abraços e Bom Carnaval! Voltamos na quinta-feira, ou a qualquer momento em sessão extraordinária!

Ana Gabriela

ROTINA DA SEMANA – Conclusões Parciais ou Finais

Tarefa do dia:

Ajuste seu timer para 30 minutos hoje, mas se não der, 15 minutos já bastam;

Pegue seu caderno e hoje, se me permitir sugerir, faça anotações à mão. Se preferir no computador, ok, vá em frente!

Imagine que você está conversando com sua interlocutora, ou interlocutor, sobre sua pesquisa. Conte para ela algo que te surpreendeu neste trabalho.

Anote este elemento surpreendente e tente descrevê-lo. O que é surpreendente? Porque é surpreendente? Etc.., etc…

E por hoje é isso!

 

Fonte da imagem: Não resisti a reproduzir duas fotos do workshop sobre escrita, que realizei há algum tempo no Instituto Qualidade de Vida. Foi um destes momentos transformadores para todos nós!

*TARDIF, Maurice. Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários: elementos para uma epistemologia da prática profissional dos professores e suas conseqüências em relação à formação para o magistério. Revista Brasileira de Educação, Jan/Fev/Mar/Abr 2000, no 13, pgs. 5 a 24 (Disponível em: http://educa.fcc.org.br/pdf/rbedu/n13/n13a02.pdf)

I’ve got a train to catch and I can’t be late

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Algumas músicas marcam nossas vidas pra sempre. “Moving On”de Ryuichi Sakamoto tem um pouco esse papel pra mim. Eu a ouvi a primeira vez quando ainda muito menina, e estava diante de uma decisão difícil. (Que tal ouvi-la? Clique no link!)

A música fala de uma partida rumo a algo novo, deixando o  conhecido para trás:

“… I’m on my way to another state of mind. I’m leaving this one behind…”*

O cenário construído pela letra faz alusão a uma viagem de trem, à paisagem que a viajante vê pela janela, de sua despedida da família, das antigas paisagens familiares.

De certa forma todo trabalho criativo, e todo novo projeto, é uma viagem a algo desconhecido, um caminho para um novo estado mental, e o necessário abandono da antiga forma de experimentar e ver a vida. Um projeto criativo é transformador!

Ao longo de seu trabalho de pesquisa, do desenvolvimento de sua escrita, você percebe como seu modo de pensar muda, como sua conversa interna se transforma, como você aos poucos, de fato, vai alcançando novos estados mentais. Nesse processo, periodicamente é importante tirar algumas conclusões, ainda que provisórias.

Como na música, podemos comparar o exercício de pensar nas conclusões periodicamente às paradas de um trem em suas sucessivas estações. Cada vez que você pensa no que concluir de seu trabalho, é como fazer uma parada em uma estação.

E não são as estações de trem um tema apaixonante da arquitetura? Parar em uma estação, tomar um café e observar o movimento, pertencer àquele local só por alguns instantes antes de prosseguir a viagem, conversar com alguém casualmente… Talvez seja uma das experiências que mais adoro em viagens (por isso escolhi a imagem de hoje, a Estação de Atocha, em Madri). Elas são de fato uma bela metáfora para os momentos em meu trabalho em que paro para chegar a algumas conclusões. Crio aqueles pensamentos, delineio aquelas ideias, sabendo que não ficarei ali para sempre, mas que, naquele momento, elas me parecem boas.

Depois continuo a viagem, sabendo que terei que me despedir de algumas ideias que naquele momento pareceram interessantes, mas não tinham força para continuar, e sabendo também que ideias novas vão aparecer, constituindo, a cada passo, ou a cada estação, um quadro cada vez mais claro do trabalho.

Bom trabalho! Abaixo, a rotina da semana e a tarefa de hoje.

Ana Gabriela

ROTINA

Esta semana de trabalho: Conclusões Parciais ou Finais

Tarefa de hoje:

Responda às seguintes questões:

  1. Quais são os três tópicos principais a respeito do meu assunto que seria essencial destacar na conclusão?
  2. O que eu sei sobre cada um destes três tópicos que eu não sabia há um mês?
  3. A quem isso poderia interessar?

Por hoje é isso! Amanhã continuamos trabalhando com as conclusões.

Abraço,

Ana Gabriela

Fonte da imagem:

Letra da música (achada em: http://lyrics.jetmute.com/viewlyrics.php?id=454205)

Moving On

I gotta get away from here.

There is nothing here for me anymore.

Just memories. I´d Forget if I could.

I´ve got a train to catch and I can´t be late. I´m on my way to another state of mine. I´m leaving this one behind.

Lots of luck and hope I will need for my journey and there´s no one can turn me around.

I´ve been hear too long and everything´s gone wrong.

I never change the view from my window.

I see the same old road with the same old souls together going nowhere.

But that won´t be me, I´ve got plans you see. Places to go, spaces to grow.

Got a and full of dreams and a geart full of hope. With a head full of screams, it gets hard to cope.

So I´m leaving it all behind. Saving the life that´s mine.

Packed my bags said my goodbye´s. momma don´t be too sad its something that I´ve do. Its no reflection on you.

I am older now got to make my own way. I don´t know how but i know that i can´t stay goodbye. Don´t wanna see you cry.

I´ll call you when I get there. Wherever there is. I think I have everthing I need. Some tapes, my walkman, a book to read, my old photographs, my locket. A blank book so that I can keep track.

And someday I´ll consider coming back. It´s so far from home. I hope that I can make it alone. It´s all looking the same, new rules but a similar game.

Listen mamma all right but lately it seems I can´t sleep at night. Oh no I´m not sleeping at all.

I guess I miss the security your kiss and how you used to sing to me so sweet.Give everybody my love.

I´ve decided to tough it out.

Giving up I´ll never go that route not me, I have faith in my dreams.

But it gets hard. No one to catch my fall.

I miss you a lot. But I made some new friends. I´m sleeping better. Did you get my letter?

Tell everyone I said hey. And when I get some money, I´ll come see you Okay.

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Como diria Pavlov…

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Gosto de rever as fotografias do casal Charles e Ray Eames trabalhando. Imagino quanto tempo levaram para sistematicamente reunir esta coleção de slides, além de tantas fontes de referências, objetos, vídeos, etc., que ao longo de suas vidas de trabalho amealharam. Imagino a disciplina e as rotinas que deviam ter para chegar a organizar tudo isso! Hoje fiquei pensando sobre como as profissionais, e os profissionais, condicionam-se a seguir procedimentos através de ações repetitivas, e assim constróem suas trajetórias e seu legado.

Gosto de ações repetitivas. Isso é algo que meu marido e eu temos em comum. Vamos ao mesmo restaurante, sentamos à mesma mesa e pedimos o mesmo vinho. Os garçons já sabem. No restaurante japonês em que almoço habitualmente, quando me sento sozinha o garçon já traz meu banchá.

Todos os dias quando sento para trabalhar, executo as mesmas ações, acendo sempre o incenso de lavanda, e ponho para tocar a mesma playlist de jazz. (Coffe table jazz, no Spotify, recomendo!)

Estas ações, ou rituais, são repetitivos, mas há um propósito: condicionar-me a entrar no estado de espírito apropriado para o que pretendo fazer. Ao contrário do que pode parecer, ações repetitivas não são, necessariamente, indicativos de uma vida monótona, mas sim uma estratégia liberadora para a atividade criativa. É nisso que penso quando vejo o acervo de fotografias do casal Eames.

As ações repetitivas também são gatilhos de antecipação emocional para o prazer, ou a dor, como descobriria Pavlov em seu famoso experimento com cachorros. Devo confessar que sou mais inclinada ao prazer! Prazer de sentar à mesa, abrir um vinho e conversar; prazer de sentar em frente a meu computador e escrever meus textos, e meus posts aqui no “Inquietudes”. Nas imagens que coleciono de arquitetas, arquitetos e outras pessoas criativas trabalhando, sempre tenho a impressão de captar o prazer destas pessoas no ato de fazer o que fazem. Mesmo quando a cena é construída para a foto, penso que as protagonistas e os protagonistas conseguem se por no estado de espírito do prazer pelos seus trabalhos.

Por essa razão, hoje convido à essa simples meditação: quais são os atos repetitivos em sua vida? Como você os repete? Porque você os repete?

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Eles têm um papel na sua vida, ou é simplesmente algo inconsciente, automático? Se for automático, será interessante tomar posse consciente de suas repetições, apreciá-las, torná-las como que uma pequena obra sua?

E com esta reflexão Pavloviana, encerro a crônica de hoje. Rotina de trabalho da semana e tarefas abaixo.

Até amanhã!

Ana Gabriela

ROTINA:

Esta semana de trabalho: Conclusões Parciais ou Finais

Tarefa de hoje:

Segunda e terça pensamos mais em termos subjetivos, refletindo sobre o estado emocional em que nosso tema nos coloca: positivo ou negativo.

Hoje vamos focalizar em dados objetivos: quais são os números de seu trabalho?

Números podem ser:

  • População;
  • Número de edifícios estudados;
  • Metragem quadrada (você já estimou a metragem quadrada do edifício, ou dos edifícios que está estudando? Já fez comparações?)
  • Número de pavimentos;
  • Datas (anos, séculos, etc…)
  • Estatísticas, proporções
  • Etc….

Pense um pouco nos números de seu trabalho e que insights eles lhe trazem!

Fonte da imagem:

Ray e Charles Eames – https://static1.squarespace.com/static/5612bfd6e4b0671bb4200749/t/5642aa8ce4b0a608992d1521/1447209631415/

Plavov Dog’s lab – https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/44/fe/c9/44fec927d4ea43c54804921af9ad8ef1.jpg

conversas sobre projetos e a vida